19 de junho - Dia de Chico

Além de um compositor incrível, Chico Buarque de Hollanda também é um grande romancista. Ele tem 4 romances publicados, sendo o primeiro "Estorvo", escrito em 1991 e o último "Leite Derramado", escrito em 2009. Como hoje esse lindo está fazendo 70 anos (e continua lindo), eu resolvi mostrar aqui no blog, um pouco do trabalho dele como escritor. Mas antes queria contar como foi que eu conheci as obras dele.
Eu morava em uma cidade do interior da Bahia e alguns meses depois que eu cheguei, foi inaugurada a biblioteca pública municipal. Meus olhos brilharam e eu tratei logo de ir conhecer o lugar. Confesso que fui preparada para encontrar só aqueles livros beeeeem antigos (o que não quer dizer que sejam livros ruins), mas qual não foi a minha surpresa quando cheguei e vi livros bem recentes. Foi lá que conheci os livros de Chico Buarque.

"Budapeste" foi o primeiro livro de Chico que eu li e foi a partir dele que virei fã do romancista Chico Buarque (porque do compositor eu já era fã há muito tempo). O livro é incrível. (um dia prometo fazer uma resenha pra vocês)

Sinopse

Ao concluir a autobiografia romanceada "O Ginógrafo", a pedido de um bizarro executivo alemão que fez carreira no Rio de Janeiro, José Costa, um escritor fantasma de talento fora do comum, se vê diante de um impasse criativo e existencial. Escriba exímio, "gênio", nas palavras do sócio, que o explora na "agência cultural" que dividem em Copacabana, Costa, meio sem querer, de mera escrita sob encomenda passa a praticar "alta literatura". Também meio sem querer, vai parar em Budapeste, onde buscará a redenção no idioma húngaro, "segundo as más línguas, a única língua que o diabo respeita". Narrado em primeira pessoa,



combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, "Budapeste" é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois livros, duas línguas e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance, e que levaram o professor José Miguel Wisnik a afirmar que se trata de "um romance do duplo". Tenso e à vontade, cultivado e coloquial, belo e grotesco, "Budapeste" traz a perfeição narrativa de "Estorvo" e "Benjamim" e confirma Chico Buarque como um dos grandes romancistas brasileiros da atualidade.



Logo depois de "Budapeste", eu continuei minha peregrinação com "Estorvo" e posso garantir que não me decepcionou.

Sinopse

Primeiro romance do compositor, aclamado pela crítica como a grande revelação de nossa literatura. A campainha insiste, o olho mágico altera o rosto atrás da porta e o narrador inicia uma trajetória obsessiva, pela qual depara com situações e personagens estranhamente familiares. Narrado em primeira pessoa, Estorvo se mantém constantemente no limite entre o sonho e a vigília, projeções de um desespero subjetivo e crônica do cotidiano. E o olho mágico que filtra o rosto do visitante misterioso talvez seja a melhor metáfora da visão deformada com que o narrador, e o leitor com ele, seguirá sua odisséia. 

"Benjamim" foi o terceiro livro de Chico que eu li e a cada livro que eu lia, mais apaixonada eu ficava.

Sinopse

Girando em torno da obsessão pela morte de uma mulher, um enigma na vida do protagonista, Benjamim, o segundo romance de Chico Buarque, narra a história de um ex-modelo fotográfico que, como uma câmara invisível, vê o mundo desfilar diante de seus olhos sob uma atmosfera opressiva. Sem conseguir distinguir o que vê fora de si do seu passado, e de si mesmo, Benjamim avança, pouco a pouco, em direção ao destino trágico que sua obsessão lhe reserva. O clima opressivo é resultado do próprio estilo de narrar.

Por fim, eu li "Leite Derramado", o último romance de Chico. Esse consagrou o meu amor pela escrita do autor.

Sinopse

Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. A fala desarticulada do ancião cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar. Tudo, neste texto, é conciso e preciso; como num quebra-cabeça bem concebido, nenhum elemento é supérfluo. Percorre todo o livro a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu "olhar em pingue-pongue", suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Embora vista de forma indireta e em breves flashes Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível. Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, circulam pela memória do protagonista: o arrogante engenheiro francês Dubosc; a mãe do narrador, que, de tão reprimida e repressora, "toca" piano sem emitir nenhum som; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. É espantoso como tantas personagens ganham vida neste breve romance. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem.

Por fim, eu só gostaria de dizer que os livros de Chico são maravilhosos e merecem ser lidos. ^^
(Obrigada, Biblioteca de Muritiba!)

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